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sexta-feira, 29 de maio de 2009

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Espadeladas e Estopadas


Apenas tenho uma vaga memória do campo do linho e do seu corte, como dos instrumentos de trabalho até ao tecer no tear.
Recordo melhor o tear por causa das mantas e cobertas que a minha avó fazia até aos meus dez anos, talvez...No entanto, pelos tempos fora fui ouvindo algumas coisas que a memória registou.
As espadeladas eram um dos trabalhos feitos à noite como, as malhadas, as desfolhadas o que mostra, para além disso, uns coloridos próprios dos serões daquele tempo acompanhados com música ou cantares característicos do nosso folclore. Fazem parte ainda da memória dos nossos mais velhos os serões bem passados com as espadeladas do linho, as estopadas, a limpagem da azeitona e as que apontei acima. Quem sabe se assim nasceu o Vira, a Cana Verde, a Vareira...e tantos cantares bonitos a mais do que uma voz?...
O trabalho das espadeladas era mais de carácter feminino.
Contavam que o linho era semeado normalmente à tarde ainda debaixo do calor e com muito amor à arte. Assim preparavam a matéria prima para fazer os tecidos para se vestirem, para as toalhas de mesa, dos cestos da merenda e da cama. Era normalmente uma actividade manual e familiar.
O linho dava a linhaça, uma semente muito fina e que era usada em remédios caseiros. Era esta linhaça que era semeada em terra fofa e sempre muito bem regadinha para produzir o linho.
A linhaça germinava dando origem a folhas redondas e mais tarde aparecia a flor azul. Amadurecida era arrancada.
As arrancadas davam origem a outra festa porque se fazia comunidade para render mais e colocadas em montes alinhados para serem carregados no carro de bois e levados para a eira para serem ripados, isto é, separadas as sementes da planta.
Uma vez, sem a semente, o linho era colocado num poço de água para demolhar vários dias.
Retirava-se do poço e punha-se a secar. Era depois moído ficando em estrigões. Os dias quentes e soalheiros trazem então a altura das espadeladas. Recordo, e muitas vezes andei com a espadela e o espadeleiro. O que caía no chão eram os tomentos ou a estopa e o linho é a parte que fica na mão que depois é passado no assedeiro, ficando o linho como cabelos e a estopa menos fina: “Era uma estopada”. Chegar à estopa dava bem trabalho.
Ainda hoje se diz depois de um grande trabalho “...que estopada!...” ou “foi uma estopada!...”.
Vinham as noites de inverno e, à lareira, ou enquanto se guardava o gado, as mulheres fiavam. Com a roca e o fuso na mão, lá iam torcendo e lambendo o fio. Da roca ia para o sarilho para preparar as meadas que eram depois curadas e branqueadas num pote de ferro cheio de água e cinza para ferver.
Depois de coradas ao sol, secas iam para a dobadoura (aparelho para dobar, andar à volta, numa “roda viva” como ainda hoje se diz “andar numa dobadoura” a quem anda para trás e para a frente a trabalhar muito), para fazer os novelos para serem levados para o tear, onde a tecedeira punha todo o seu engenho e arte na criação da peça mais bonita. A. Viana



A Cozedura do Pão, os Fornos e as Lareiras


Antigamente a cozedura do pão era o trabalho mais comunitário. Havia um forno comum, onde todos iam cozer o pão.
Deste modo apareceu o topónimo “ Lugar do Forno” ou “Lugar dos Fornos”, o termo o “Forno do povo”...
Isso ainda existe. Há alguns anos vi um desses fornos da aldeia de Covas, em terras do Barroso, e as pessoas da aldeia iam lá cozer o pão. Eu próprio assisti e observei como o faziam...
Depois cada um começou a ter em sua própria casa um forno. Nem toda a gente da família era seleccionada para cozer o pão. Era preciso que tivesse certa virtude para que pudesse fazer o trabalho com êxito. Todos tinham então, em casa, um homem ou uma mulher que cozia o pão. Era tarefa para não pensar ao mesmo tempo noutra coisa dado o esforço, o chegar-se ao esquentar do forno, amassar da farinha de milho moído e peneirado ao qual se tirava o farelo. Depois com a água a ferver era amassado até à hora de poder juntar o fermento e o sal e esperar que levedasse, muitos faziam uma cruz sobre a massa. Com “vasculho” limpavam-se as brasas, varria-se o chão do forno quente, e havia que usar a gamela oval para preparar as brôas, pô-las sobre a pá e colocá-las certinhas dentro do forno que era fechado com uma porta forrada com bosta de boi em toda a volta. Com a pá do forno faziam, às vezes, uma cruz, ou diziam orações populares. Em alguns lugares usavam na porta que era uma lage de lousa com um boraco ao canto para verificar o andamento da cozedura.
Eram sempre duas rasas ou mais de pão e cozia-se para 15 dias. Quando o pão saía mais húmido poderia vir a ganhar bolor e, mesmo assim, era muitas vezes aproveitado metendo-o de novo ao forno para queimar o bolor e secar ou cozer mais um pouco... não se deitava fora. Havia um respeito muito grande para com o pão. Quando caía ao chão algum bocado, logo se pegava nele, dava-se um beijo e metia-se à boca.
Muitas vezes as pessoas contentavam-se com um naco de pão de milho e umas azeitonas. Já dava para passar o dia.
Em ocasiões de festa de Natal era feito o bolo com mistura de centeio que lhe dava outro paladar mais gostoso, mais especial, talvez mais macio e mais doce...
As brasas tiradas dos canhotos que aqueceram o forno eram metidas num cântaro e abafadas para se apagarem sem se desfazerem em cinza. Deste modo ficava um carvão que, ou era vendido para as carvoarias ou era utilizado nos ferros de engomar.
O forno ficava normalmente junto e aberto para a lareira, na cozinha onde se comia e se reuniam as pessoas. A lareira era a peça fundamental da cozinha, da família. Era feita de grandes lages de pedra. À volta da lareira com a fogueirinha viva ou apagando-se conforme a hora da noite, onde todos comiam, rezavam o terço. As mulheres sobre a lareira faziam as meias de lã de ovelha ou fiavam e os homens jogavam cartas ali perto. Entretanto iam contando histórias da família aos filhos, aos netos, lendas, contos ou jogavam às adivinhas, ou ainda cantavam e tocavam música de guitarra ou de concertina enquanto também se debulhava o feijão, a fava, descascavam-se a nozes ou os pinhões.
Quando chovia ou ventava, então, é que sabia bem “estar ao borralho”, isto é, estar à volta da lareira a fazer os referidos trabalhos ou a contar histórias de vida que muitas delas passaram de geração em geração e agora já não passam.
Os mais novos, as crianças, iam mais cedo para a cama, mas sempre depois de pedir, com muita reverência a bênção aos pais,avós ou tios que ali em casa, àquela hora, se encontrassem. E eram abençoadas...
Também na parte superior da lareira e interior da chaminé levava o fumeiro e a cobertura da cozinha normalmente era de telha solta ao contrário do resto da casa com forro.
A telha solta facilitava o trabalho do defumadouro dos chouriços e das chouriças...acabadas de pôr no fumeiro e que não convinha apanhar com alguma pinga destes pitéus frescos que “fazia cair o cabelo”. Enqunto não secassem ali sob o fumeiro ninguém se sentava.
Junto da lareira ou sobre ela havia o “olhar” lugar onde se encontravam as vides, os cavacos, as canhotas e a pruma. Também os escanos à volta , perto ou até sobre a lareira, quando ela era grande, serviam de banco para preguiçar, comer o caldo, tagarelar ao serão enquanto se descascavam batatas ou se faziam bordados, até o sono chegar, os olhos a quererem fechar e ordenarem: “Vamo-nos deitar”. Já depois de os pés terem sido lavados, às vezes eram as filhos ou os netos que lavavam os pés aos pais ou aos avós.
Agora as lareiras são outras. Têm muitos estilos. São de canto, de parede, de carvão, ou queimadores de lenha, ou outro material já para não falar dos aquecedores a gás ou a energia eléctrica.
Adproquo Viana


As Roçadas


Roçar ou rossar? Naturalmente é roçar porque se trata de cortar, cortar o mato, cortar o roço, derrubar arbustos, limpar algum rossio, isto é, terreno amplo que se limpa de ervas, de matos ou outros vegetais, terreno roçado. Deixavam o lavrador levar a efeito em Maio as roçadas de mato, roço ou junco e junça para o mês de Julho, para que no inverno tivesse guardado em pilhas, desse material, para servir de leito aos animais na corte e para fazer o estrume, adubo natural necessário para deitar nas terras para as plantações ou sementeiras.
Era normal juntar 8 a 10 homens e até mulheres para roçar mato nas bouças ou nas veigas o junco, o roço, ou a junça, trabalho feito de sachola própria, mais afiada. O foucinho de cabo já apareceu mais tarde.
Era este trabalho também uma oportunidade para trocas de trabalho entre vizinhos, amigos e caso contrário, para chamar jornaleiros a quem pagavam, 20$00 por dia. As roçadas do roço, do junco ou de junça na veiga normalmente era feita sempre pelo mês de Julho, antes das marés grandes de Agosto, pois que essas marés subiam os rossios e às vezes até prejudicavam as respectivas roçadas.


As Cavadas


Um trabalho que tinha de ser feito não só para melhor produção da vinha, mas para melhor aproveitamento por baixo das latadas com erva para o gado ou outro produto vegetal para o mesmo efeito, ou para o homem.
Eram mais organizadas cavadas, onde havia troca de trabalhos e se chamavam jornaleiros ou jornaleiras que sempre havia na terra, à espera de ganhar algum.
As cavadas eram também as terras onde o arado não chegava como o cabedulho e os terrenos com pomares e a abertura à sachola dos regos que faziam as leiras ou as leivas para o centeio ou para a aveia.
Era trabalho cuja ferramenta era uma sachola e na minha região gostavam de comprar, de contrabando, sacholas espanholas que eram de melhor material, mais resistentes e rendosas.
Cavadas foram também as sepulturas nas pedras na antiguidade e que agora nós encontramos nos montes, nos castros. E encontramos sepulturas perfeitas. As cavadas como todos os trabalhos agrícolas eram também ocasiões para criar solidariedade, comunidade e muitos nem se faziam rogados, iam mesmo trabalhar sem que o vizinho, amigo ou o familiar esperasse uma ajudazinha, que no fim de contas era tão apetecida, bem vinda e grata.


As Desfolhadas


Depois das sementeiras vinham as ceifas e com elas as desfolhadas do milho.
Tempos que lá vão, quando meia sardinha era prezigo junto com o resto da comida e o caldo, na casa do lavrador, para alternar com a carne branca de porco que se conservava na salgadeira ou a chouriça de cebola, ou sanguinha do fumeiro porque o presunto e o chouriço de carne era para as ocasiões de festa!
As desfolhadas nesse tempo eram momentos esperados como o desejo de uma grande festa. Juntavam-se os vizinhos, os familiares, os amigos e cada um sentado num cepo de pinho, que servia de banco, toca a desfolhar a espiga com a ajuda de um espeto feito de arame, folha a folha que constituía como que o seu casulo, a sua camisa, deixando a maçaroca despida. Quebrada pela base, era lançada em cestos que transportavam para o sol da eira, enquanto a palha, o pé com o folhelho posto ao lado era atado em molhos com uma cinta de azevém molhado e enrorado. Com esses, ou “copas de palha” depois de secas e colacadas em sítio que apanhassem sol, ao alto e em forma de cone, três a três, conforme o costume e a região eram feitas as medas que no inverno o lavrador aproveitava para alimentar o gado.
Às vezes, juntavam-se às 20 ou 30 pessoas e a festa era grande!... Cantavam e contavam as suas histórias enquanto não aparecia uma maçaroca de milho rei (milho vermelho, ou milho-rei) para um abraço ou um beijo dado a todos ou recebido de todos com grande galhofa, sobretudo, quando havia Juventude adulta que, para além disso, não faltavam galanteios de maroteiras toleráveis e acompanhadas de risotas e mais as palmas.
Em todas as desfolhadas, actividade manual, havia sempre alegria e novidades para todos, até para as crianças que não adormeciam com facilidade quando eram realizadas durante o serão pela noite dentro.
No final havia sempre uma tigela de vinho, sardinhas ou outro pitéu que o anfitrião oferecia a todos os presentes, acabando, por vezes, com um bailezinho ao som de uma concertina ou de uma guitarra e a cantar as cantigas apropriadas e relacionadas com “a nossa desfolhada”, “milho doirado”, “os olhos de amêndoa”, “espiga desfolhada” ou a “moura encantada” e o “mito de um amor intenso e de uma loucura de desejo imenso, como paixão sem fim... enquanto o tempo passa veloz como um ai que saísse de mim..., “na ausência de amar... sem mais parar”!...
Cada espiga desfolhada inspirava muitas vezes olhares e expressões, que a vida encantada, criava momentos de paixões...
Hoje as desfolhadas que se fazem por aí... e bem, nas escolas, ou como na nossa cidade de Viana, na Praça da República, pretendem trazer à memória algo que acabou e serve de estudo para os mais novos, mas... nada como dantes!...
As desfolhadas de outros tempos!... Que saudades temos destes trabalhos!... A. Viana


Os Sacristães ( e não sacristãos !...)

É sacristão o que zela pela sacristia, mas não basta. O sacristão vai mais longe uma vez que a sacristia é o lugar onde se guardam religiosamente as alfaias sagradas no uso do culto.
A função do sacristão recai também na preparação de tudo o que é necessário à celebração da Eucaristia e todos os outros sacramentos, ou outra paraliturgia; põe tudo preparado não só para o celebrante, mas também para que os acólitos exerçam dignamente a sua missão no altar. Na falta do acólito, o próprio sacristão também realiza essa função e até devia exercê-la sempre vestido de hábito próprio.
O sacristão ocupa-se também da limpeza e do adorno da igreja quando faz falta.
Existem inúmeras anedotas sobre o sacristão, mas o que é certo é que ele deve ser visto como muito próximo do sacerdote, da autoridade paroquial, isto é, do padre, da Comissão Fabriqueira ou do Conselho Paroquial.
Nem sempre foi uma função específica no trabalho da igreja. No nascimento da Igreja, as comunidades celebravam a eucaristia nas próprias casas. Só a partir do séc. IV, 313, ano de edito de Milão, o imperador Constantino, ao fazer-se cristão, trouxe à Igreja uma certa abertura e liberdade aos cristãos pelo que as grandes perseguições deixaram de existir.
A expansão aí foi maior e deixou as cidades para atingir as aldeias, começando a haver uma organização eclesial, com funções próprias do Bispo, dos diáconos, do lugar de leigos nos serviços do altar, no coro litúrgico, os lugares dos acólitos, de sacristão e do povo com os homens à frente e de mulheres de cabeça coberta atrás.
Foi assim que nasceram os meninos do coro e a missa era rezada em latim; nessa altura ainda muita gente acompanharia a celebração numa ou noutra oração. Os padres eram os únicos que ensinavam a ler e a escrever nas escolas que eles próprios criavam junto das igrejas.
A pouco e pouco o povo ia-se integrando cada vez mais, acompanhando o coral, o serviço do altar e procurando responder mesmo em latim a algumas das orações latinas.
O Padre celebrava de costas voltadas para o povo, o coral ficava perto do altar, próximo do presbitério - lugar do clero, acólitos e sacristão.
Mais tarde houve mais modificações sobretudo em relação ao lugar do presbitério e ao lugar do coral, aparecendo nas igrejas ou catedrais o lugar do Coro que hoje nem é usado, nem é objectivo duma obra nova.
Para ser sacristão era nessa altura ter vontade de ajudar, ser disponível para Deus e para a sua comunidade, esforçar-se para ser bom, procurando viver o que Jesus viveu.
Mais tarde as coisas foram mudando e o serviço de sacristão começou a ter uma função já com características de ganha–pão; era um extra que entrava na família, a título de esmola. Como o padre.
A propósito conta-se que um padre novo chamou o sacristão para ouvir o seu ensaio do sermão e o sacristão fez-lhe a vontade. A certa altura pulou da cadeira assustado com o exagero do padre novo, soltando um grande palavrão...Esta é uma das muitas histórias que se contava...
Outra questão é o plural de sacristão, pois é motivo de muita confusão ou discussão entre algumas pessoas com conhecimentos e estudos. A palavra primitiva era sacristam (acusativo) que depois passou a sacristianum ( acusativo) e em terceira declinação mais tardia passou a ser sacristianem, cujo plural era sacristianes e daí o plural de sacristães, tal como capelães, alemães, catalães.
Não pelo mesmo motivo, talvez, mas há outras palavras correntes que o plural de ão é ães devido à proveniência do acusativo latino do plural; panes deu pães, canes deu cães, entre outras.
A.V.


Merceeiros
Normalmente em todas as aldeias, e nas cidades também, existiam os merceeiros que vendiam de tudo, sobretudo, bens para utilizar na alimentação ou na habitação. Tinham o seu balcão de madeira, com vidro à frente, dividido em vários compartimentos para o açúcar amarelo, para o arroz, as massas, as farinhas, o café, a cevada, etc... Após estes sectores havia várias gavetas para coisas mais miúdas e também a caixa ou a gaveta para o dinheiro a receber e outra gaveta para o dinheiro de pagar ao fornecedor ou fazer outras despesas. Sobre o balcão sempre papel de costaneira rosado (rosa e roxo) para fazer as contas com o lápis (que o trazia sempre na orelha), ou até para embrulhar o café, o açúcar, o arroz, a pimenta, etc... O papel de cartuxo branco por fora às riscas e acinzentados por dentro que servia para o açúcar...
Vendiam também rebuçados de açúcar, 4 a cada centavo, hoje uma centésima de cêntimo. Vendiam também a retalho o bacalhau, às gramas , e o chocolate vendido a retalho por número de quadrados, o queijo, etc... até vender um cigarro. Também o azeite era vendido a granel e o petróleo. Um livro exigido era o “deve e o haver”. Às vezes até o papel de embrulho era de velhos livros e jornais com que servia a mercearia ao freguês.
Faziam bom negócio. Quem sabe, às vezes, talvez algum mais desonesto com a balança ao centro do balcão a pesar mais umas gramas “ roubadas”... Agora a mercearia é outra. Ainda se vende uns copos. Hoje é o Carrefour, são todos os hipermercados. Noutros tempos o merceeiro vendia muito mais e até fiava bacalhau até quatro ou cinco meses, mas agora os grandes mercados vendem ao preço que os merceeiros o compram para vender... Só não se fia nada aí... e toda a gente arranja o dinheiro...
Agora o povo quer fartura e tem fartura. O remédio destas mercearias agora é abrir mais cedo e fechar mais tarde para ver se se aguenta, embora o lápis já tenha acabado. As máquinas fazem tudo, e tudo já vem embalado, pelo que não precisa o merceeiro de gavetões nem de gavetas para o dinheiro, nem de balança...para pesar. Aí, já não pode enganar ninguém no peso, pois tudo vem pesado já da fábrica e os preços praticamente estão marcados antecipadamente e não tem o merceeiro de andar com o lápis na orelha. Acabou-se esta espécie...
A. Viana



Os Resineiros


O Resineiro é aquele que trabalha na exploração da resina. A resina é uma substância viscosa, odorífera, insolúvel na água, solúvel em álcool e combustível. No nosso meio é muito conhecida a resina dos pinheiros.
Na década de quarenta começou uma grande exploração deste produto e apareceram então os resineiros. Por cada pé resinado o proprietário recebia uma certa quantia, pequena, mas, no conjunto de uma bouça de muitas varas com medida adequada à resinagem ou de várias bouças, era sempre uma quantia que aquecia ou folgava economicamente as costas aos seus donos, ou lavradores, por exemplo. No entanto, não eram muito animadores os resultados porque havia a impressão que o pinheiro resinado dava uma madeira mais fraca, menos aproveitável.
Muitos não deixavam explorar das suas árvores esta substância.
Cada vara com a sua medida de diâmetro com cerca de 20 cm de diâmetro à altura de 80 cm da raiz poderia ser resinada. O resineiro dava-lhe um golpe na horizontal, em cerca de 10 a 15 centímetros, com uma folha de zinco inclinada para a resina correr para um vaso de barro (de caco), e os resineiros iam de tempos em tempos colher a resina dos vasos para continuar a explorar a seiva que descia do pinheiro.
Vi algo semelhante quando fui à Tailândia com os borracheiros, na exploração da resina que daria depois a borracha.
Em Mazarefes havia um ou outro resineiro que trabalhava por conta de outrém. Normalmente durante algum tempo tratava-se de um intermediário de Forjães. Eram sobretudo exploradores de fora que vinham e traziam os empregados.
Não era uma vida fácil, a do resineiro, no sobe e desce da montanha, das florestas, por entre mato e urze, sempre rotos, sujos de resina...de balde e espátula na mão...
Era um trabalho duro, pobre e sujo.
Uma saída para muita gente que não queria ou sabia trabalhar no campo. A arte de resineiro não era difícil de aprender e alguns eram resineiros ainda muito novos, seguindo muitas vezes, a profissão do pai...
Assim aparece, a propósito do resineiro, um canto vindo da terra que José Afonso recolheu e tem diversos conteúdos conforme as terras, as regiões.

Resineiro engraçado, engraçado no falar,
Resineiro engraçado, engraçado no falar,
Ó i ó ai, eu hei-de ir à terra dele,
Ó i ó ai, se ele me lá quiser levar.
Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão,
Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão,
Ó i ó ai, pr’a escrever ao resineiro,
Ó i ó ai, que trago no coração.
Resineiro é casado, é casado e tem mulher,
Resineiro é casado, é casado e tem mulher,
Ó i ó ai, vou escrever ao resineiro,
Ó i ó ai, quantas vezes eu quiser.
Fernando Faria (Mortágua; recolha de Zeca Afonso)
Letra e Música popular da Beira Alta
A . Viana

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