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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A doutrina do purgatório é diferente?

O purgatório e a oração pelos defuntos
Nos últimos anos, tem-se feito, a nível da Teologia, um grande esforço naquilo que Yves Congar chama uma “purificação do purgatório”. As metáforas encontradas ao longo dos séculos, sobretudo na Igreja Ocidental, para tentar explicar o que acontece no momento da morte e do Juízo, acabaram por criar um imaginário que não ajuda à sua verdadeira compreensão. É necessário, por isso, deixar de pensar no Purgatório como um tempo, contado em dias, meses ou anos, em que as pessoas que morrem aguardam o juízo final, e entretanto sofrem pelos pecados que cometeram e que ainda não foram perdoados. Outra ideia que não ajuda é que mandar celebrar missas pelos que morreram diminui o tempo e a pena do Purgatório, Esta compreensão não ilumina aquilo que é o essencial desta doutrina.
O Purgatório não é um tempo, nem um espaço, mas sim um estado. Não se pode falar da realidade para além da morte a não ser através de metáforas, já que é impossível conhecer o que acontece. A natureza da doutrina do Purgatório, ou deste tempo, intermédio entre a morte e o Juízo, ou entre a Morte e o Paraíso, é essencialmente cristológica. E tal natureza pode resumir-se a três pontos principais:
Após a morte, o encontro com Cristo comporta um momento de juízo, isto é, olhando a própria vida, a pessoa toma consciência onde viveu segundo o amor e como orientou a sua vida segundo o amor. Tal confronto com Cristo e consigo mesma comporta um certo sofrimento, pois é um processso de purificação do próprio pecado, antes da comunhão total com Deus.
Neste processo, a pessoa não está só, mas é acompanhada pela oração da Igreja. O juízo após a morte não é, por isso, uma espécie de tribunal, onde se pesam as boas e más acções cometidas durante a vida terrena, mas sim um olhar sobre a totalidade da vida através do amor. Quando percebemos onde não amámos, ao receber o perdão de Deus, sentimos a pena e a dor do próprio pecado. Só o amor é capaz de transformar. Quando somos perdoados, sentimos este abraço de Deus à nossa fragilidade, e tal abraço faz-nos cair na conta da responsabilidade de ser amados e da pena de não termos amado como Deus nos pede.
O encontro com a bondade de Deus purifica a pessoa, como através do fogo (cfr .1 cor 3 10-17), de todo o mal cometido e das marcas que o mal deixou no mundo, como ruptura dos laços de caridade. De facto, no pecado, não existe ruptura somente com Deus, mas também com os outros. Por isso, rezar pelos mortos faz sentido, na medida em que, através da oração, se coloca o bem onde o mal deixou as suas marcas. A força da oração transforma o mal em bem e, por isso, na celebração da eucaristia a Igreja reza pelo s que partiram, “aliviando” e acompanhando os mortos no seu processo de união definitiva com Deus. É um momento de comunhão na caridade que ultrapassa as próprias fronteiras da morte. As missas de sufrágio ou as missas pelas “almas”, devem ter como fundo esta orientação para o restabelicimento do amor no mundo. É acompanhar os que morreram e, ao mesmo tempo, comprometermo-nos com o bem que podemos fazer na nossa vida. Rezar pelos defuntos é também rezar por n´s mesmos, vivendo o mesmo dinamismo de transformação na Vida de Deus. Esta oração acompanha a tradição da Igreja desde o seu início, pois faz parte do cristianismoa convicção de que ninguém peca sozinho, do mesmo modo que ninguém se salva sozinho. São os laços de saudade, do agradecimento e da compaixão que restabelecem o amor e esperança.
O Papa Bento XVI, na sua encíclica sobre a esperança, spe salva, dedica alguns números (nn. 45-48) a considerações sobre o purgatório, muito úteis e esclarecedoras e, por isso, de leitura muito recomendável. Cito uma passagem que ilustra bem o que atrás foi dito acerca do momento de purificação, que acontece no encontro com Cristo:
“O encontro com Ele é o acto decisivo do Juízo. Diante o seu olhar, funde-se toda a falsidade. É o encontro com Ele que, queimando-nos, nos transforma e liberta para nos tornar verdadeiramente nós mesmos. As coisas edificadas durante a vida podem então revelar-se palha seca, pura fanfarronice e desmoronar-se. Porém, na dor deste encontro, em que o impuro e o noviço do nosso ser se tornam evidentes, está a salvação. O seu olhar, o toque de seu coração cura-nos através de uma transformação certamente dolorosa “como pelo fogo”. Contudo, é uma dor feliz, em que o poder santo do seu amor nos penetra como chama, consentindo-nos no final sermos totalmente nós mesmos e, por isso mesmo, totalmente de Deus” nº 47
Deste modo o Purgatório é o momento de encontro com o Amor e o Perdão realizados em Jesus, que nos devolve à nossa verdade e nos faz entrar em comunhão com Ele. O nosso pecado está perdoado na Morte e Ressurreição de Jesus e somos convidados, sobretudo no momento de morte, livremente confrontados com a totalidade da nossa Vida, a aceitar este perdão e a purificar-nos de todo o mal.
No mês de Novembro, dedicado especialmente à oração pelos que partiram devemos aceitar a beleza do desafio que Bento XVI propõe na encíclica Spe Salvi, e que pode ajudar a uma consciência melhor do que significa rezar por quem está diante de Deus e do seu Amor: “Na trama de ser, a minha gratidão para com ele pode significar uma pequena etapa da sua purificação. E, para isso, não é preciso converter o tempo terreno no tempo de Deus; na comunhão das almas fica superado o simples tempo terreno, Nunca é tarde demais para tocar o coração do ourto, e nunca é inútil.” António Valério S. J. in mensageiro do coração de Jesus

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