AVISO

Meus caros Leitores,

Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

A partir de agora poderão encontrar-me em:

http://www.arocoutinhoviana.blogspot.com

Obrigado

quinta-feira, 30 de março de 2017

A Casa da Costinha de Baixo – Serra de Arga

A Casa da Costinha de Baixo – 

Serra de Arga

Conheci-a logo que tomei posse da Paróquia de Arga de Baixo, Concelho de Caminha em plena Serra d`Arga.
Foi-me apresentado o senhor David de Jesus Lourenço o detentor das chaves de tudo e receber alguma da orientação da igreja e da residência, acompanhado pelo David Gonçalves da Costinha de Cima que também fazia parte da Comissão Fabriqueira e Regedor.
O David da “Costinha de Baixo” assim conhecido no vulgo, era um homem muito religioso e dava tudo o que podia pela família, pelos outros e pela comunidade em geral. Era verdadeiramente um cristão comprometido e para convencer os outros não lhe faltavam argumentos da razão, de fé e da vida para levar os conterrâneos a darem-se à comunidade. A todos ele desejava que dessem o passo igual ao dele, mas o dele era sempre um passo maior sem deitar foguetes para que lhe batessem palmas. Era um homem fora do comum, com uma personalidade muito peculiar, homem de princípios, humilde, trabalhador, de carácter e serrano dos quatro costados em defesa da terra e da igreja sempre aberto e amigo de fazer o bem.
Se assim o era, assim fazia, vem como a sua esposa e os seus filhos.
O David da Costinha de Baixo nasceu na casa do Sabugueiro e lá se foi para a Costinha de Baixo por ter casado com a Maria das Dores Gonçalves. Era de Baixo porque havia a casa do Costinha de Cima, onde vivia o David Gonçalves da Comissão fabriqueira e regedor da freguesia. Perto morava o Carlos da Casa do Campo do Vale que era Presidente da Junta da qual o David “da Costinha de Baixo” era também o tesoureiro.
O David era filho da Angelina de Sabugueiro que não conheci, mas conheci uma irmã que vivia na casa a Maria José, tia do David e de quem fiz o funeral. A Maria José era um poço sem fundo como se dizia sobre a cultura da gente da Serra D`Arga estes de que trato aqui.
Eram nove irmãos que se espalharam por todo mundo e já todos falecidos.
A Angelina, portanto, mãe do David da Costinha de Baixo, ficou viúva e um dia, o senhor conhecido por violas, um vizinho, não a queria deixar passar por onde sempre tinha passado para uma propriedade desde criança, solteira, como casada e mãe de 9 filhos. – “Ora ou me deixa passar ou dou-lhe com esta vara aguilhoada”. Não o convencendo e julgando que ela não o faria, ela deu-lhe mesmo e partiu-lhe um dedo. O homem foi queixar-se ao regedor da terra, e a resposta deste foi lapidar “então tu metes-te com uma mulher viúva?” para a outra vez abre os olhos.
Assim era a sua mãe como viúva, sem homem mas não tinha medo.O David foi para as carvoarias em Lisboa, depois passou a trabalhar num restaurante e começou a gerir o conhecido e famoso “Restaurante das Galegas” ao mesmo tempo trabalhava na agricultura nos meses que tinha disponíveis.Por fim teve um restaurante com um sócio, mas deixou.
Não faleceu de velhice mas de Câncer,o tabaco que muito usava não devia ser alheio à causa.









Partiu sereno deixando quatro filhos: o Manuel casado em Castelo Branco, pai de uma filha, já falecido. A Fátima casada com o Manuel Fernandes da casa de Riba, de Santo Aginha ( Arga de S. João) e com dois filhos casados e com geração; a Lúcia, solteira e sem geração e o António casado com Alice da Casa da Corga, Castanheira, de Arga de Baixo e com dois filhos.
Arga de Baixo tinha uma residência paroquial, mas eu optei por uma sugestão vinda dos de Dem, viver em Dem e apresentavam casa. Aceitei e, para não abandonar a residência oficial das Argas, onde vivi uns tempos, passei mais tarde, de quinze em quinze dias, a ir lá passar a noite de sábado para domingo. Foi o primeiro pároco que a tinha deixado, embora o meu antecessor no pouco tempo que esteve também vivia em Covas com o Pároco de Covas que tinha sido seu antecessor igualmente nas três Argas.
 Então a Maria da Costinha de Baixo não me deixava cozinhar queria que eu jantasse quinzenalmente na casa dela com o marido e os filhos. Assim era.
Comer na cozinha ao lado da lareira cozido à moda da serra, preparado no pote. Aí fiz as melhores refeições da minha vida e aí passei os meus últimos serões à lareira.
Num sábado estava na cozinha e a Maria das Dores como era de costume ia à janela da sala para ver se via o meu carro chegar à estrada de Santo Aginha para calcular o tempo que levava para eu chegar. Como um dia eu demorei muito depois de me ter visto, já ia toda a gente à minha procura para ver se tinha caído em alguma ribanceira. Entretanto cheguei e a família e vizinhos estavam todos em polvorosa.
A Fátima tocava órgão e alimentava um grupo jeitoso do coral para animar as missas, animadora, mas um pouco mais reservada. A Lúcia foi catequista e muito mais extrovertida, inteligente, brincalhona mas com carácter bem personalizado e por minha indicação aos pais, ela com 15 anos começou a estudar fazendo em três anos 3 exames: o do ciclo preparatório, o 5º ano do liceu e o 7º ano também do liceu, hoje 12º que ela fez questão de o fazer, anos depois, à noite quando já trabalhava.
Quando a sua mãe ficou viúva e chegou a uma idade que não lhe merecia confiança para viver sozinha trouxe-a para a Caridade e não passava um dia sem a ir ver e passear com ela, o tempo que podia e lhe permitiam não lhe faltando com o afecto de uma boa filha, dando-lhe enquanto pôde a sua presença e mãe e filha ficavam mutuamente consoladas até falecer na Caridade.

A Casa da Costinha de Baixo lá está no mesmo local  e é sempre um ponto de referência para todos quantos conheceram este casa.

Sem comentários: